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Quando Jatobazinho foi encontrado, pesava 35 quilos

*Por Fábio Paschoal

Agosto de 2018, um filhote de onça-pintada foi encontrado no pátio da Escola Rural Jatobazinho, no Pantanal de Corumbá (MS). Gediendson Ribeiro de Araújo, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da ONG Onças do Rio Negro, foi contatado e reuniu uma equipe para capturar o felino. Ele criou um grupo de ação – formado pelos projetos Onçafari, Onças do Rio Negro, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), Instituto Homem Pantaneiro, Panthera Brasil e UFMS – para decidir qual seria o destino do animal.

O filhote, batizado de Jatobazinho, estava magro e mostrava sinais de desidratação severa. Era um macho com aproximadamente um ano e meio, idade em que as onças começam a desgarrar da mãe, mas ainda não são totalmente independentes. Provavelmente ele não conseguiu acompanhar a mãe por estar debilitado ou a mãe morreu por alguma razão e ele acabou ficando sozinho.

Jatobazinho foi levado à UFMS, mas estava em condições tão ruins que Araújo pensou que ele não iria sobreviver à primeira noite. “Ele estava muito magro, com frequência cardíaca muito baixa. Deixamos ele no soro e torcemos para que toda a medicação que nós ministramos fizesse efeito”, diz o pesquisador, “No outro dia ele já estava esperto! Aí começamos a entrar com alimentação”.

Jatobazinho após 6 meses, já recuperado, pesando 75kg

Como não havia estrutura para manter animais silvestres na UFMS, o animal foi transferido para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande, órgão vinculado ao Imasul, onde começou o processo de recuperação. O grupo de ação decidiu que o melhor destino para o órfão seria a reintrodução. “A gente sempre viu o Onçafari como melhor destino para o Jatobazinho iniciar o treinamento (Onçafari Rewild) e depois soltá-lo na natureza”, afirma Araújo.

Depois de seis meses no CRAS, o animal foi levado ao Hospital Veterinário da UFMS para passar por exames e radiografias. Após ser constatado que estava saudável, foi sedado e transportado para o Refúgio Ecológico Caiman (REC), no Pantanal de Miranda, onde fica a base do Onçafari.

Recinto no Refúgio Ecológico Caiman, onde Jatobazinho ficará sob os cuidados da equipe do Onçafari Rewild – Foto: Mario Haberfeld

Jatobazinho fará parte do programa Onçafari Rewild, reconhecido pelo trabalho com Isa e Fera, duas onças-pintadas que perderam a mãe em um trágico acidente, foram resgatadas e transportadas para o REC, onde ficaram em um grande recinto de 1 hectare (com açude, árvores e lugares para os animais ficarem escondidos), passaram por um processo de treinamento para aprender a caçar e, após um ano, voltaram a viver livres na natureza.

Segundo a coordenadora do Onçafari, Lilian Rampim, Jatobazinho receberá pedaços de carne ou frango a cada dois dias. “A gente ainda não ofereceu presas vivas por dois motivos: porque ainda estamos obtendo as licenças e estamos esperando as gaiolas de captura de presas ficarem prontas”, diz a bióloga. “Saindo as licenças e chegando as gaiolas, a gente vai começar a ofertar presas vivas (uma por semana). Vamos usar a mesma receita de bolo que usamos pra Isa e pra Fera.”

Isa, a onça-pintada que ficou órfã ainda pequena – Foto: Gustavo Figueiroa

“Vamos soltar presas fáceis no início e vamos aumentando o grau de dificuldade até ele conseguir abater as presas mais difíceis (queixadas adultos e capivaras adultas)”, diz Eduardo Fragoso, biólogo do Onçafari. “Na fase final, quando ele estiver pronto, vamos colocar rádio-colar (para monitoramento), fazer uma bateria de exames para ver se está tudo bem e, provavelmente, ele será solto no Pantanal de Corumbá.”

Isa e Fera se tornaram grandes caçadoras, copularam com os machos da região, tiveram filhotes, passaram a ser observadas pela equipe do Onçafari e por turistas que visitam o REC, foram tema de documentário da BBC (Jaguars: Brazil’s Super Cats) e até viraram estrelas de uma coleção de joias. Estamos trabalhando para que o Jatobazinho tenha o mesmo sucesso.

Fera sendo observada por turistas do Refúgio Ecológico Caiman – Foto: Edu Fragoso

*Fabio Paschoal é biólogo, jornalista e guia de ecoturismo. Foi editor e repórter de National Geographic Brasil por 5 anos e hoje é produtor de conteúdo do Onçafari e da GreenBond

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