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Por favor, podem se apresentar:

Richard (R): Meu nome é Richard Zitha Mthabine. Sou rastreador senior no Kirkmans Kamp, que fica em  Sabi Sand, África do Sul.  Minha ambição é continuar aprendendo e me aperfeiçoando para me tornar um dos melhores rastreadores do mundo.

Richard gets up and close with a horse at the lasso practice ground.

Richard

Andrea (A): Meu nome é  Andrea Mathebula Sithole. Minha família vem de  Moçambique e sempre vivi em meio a natureza. Eu trabalho no Londolozi Game Reserve, mesmo lugar onde meu pai trabalha desde 1984. Meu sonho é virar um rastreador Master!

Andrea sets out for an early morning tracking session - focused and ready!

Andrea

Conte nos um pouco do seu voo da África para o Brazil?

R: Foi meu primeiro voo, então no começo estava um pouco assustado.  Foi uma viagem bem longa e eu não conseguia acreditar que dava pra ouvir música e assistir filmes durante toda a viagem. Adorei a comida e as bebidas. Foi uma experiência incrível. Peguei as meias que me deram no avião e continuo usando-as quase sempre.

A: Foi bem legal. Já havia voado em avião pequeno, mas nada parecido com aquele! O avião era gigante. A parte mais assustadora foi quando paramos de sobrevoar a África e começamos a sobrevoar o mar. Fiquei pensando que se o avião caísse e eu sobrevivesse, teria que nadar pra caramba… e acho que não conseguiria…

Adorei as músicas e as refeiçoes, mas até agora não consigo acreditar que da pra ir ao banheiro enquanto estamos no céu!

Andrea and Richard take up their seats in the South African Airways plane...emergency exit with extra legroom!

Andrea and Richard em seus assentos. Saída de emergência com direito a mais espaço pras pernas…

Quando fizeram o curso na Tracker Academy e o que os levou a fazer um curso de um ano?

R: Junho 2011 – Junho 2012.  Naquela época não estava trabalhando e estava tentando alguma oportunidade que me agradasse. Tenho uma paixão por conservação e queria aprender mais sobre a natureza.  Eu sabia que através da Tracker Academy eu não somente conseguiria um trabalho mas também uma carreira. Algo que eu pudesse aprender todos os dias e melhorar sempre.

A: January 2011 – December 2011.  Quando era pequeno costumava visitar meu pai em londolozi. Ele trabalhava nas matas todos os dias. Fui empregado para ajuda-lo a tomar conta das terras. Isso envolvia cortar árvores, fazer trilhas, barreiras contra fogo e ter certeza de que tudo estava sendo conservado da melhor maneira possível. Um dia avistei um leopardo! Tentei segui-lo, mas não consegui.. Fiquei frustrado pois sabia que no Londolozi haviam pessoas que poderiam ter rastreado aquele leopardo e te-lo encontrado.  Queria ser um deles.  Por sorte tinha um curso da Tracker Academy lá no Londolozi e me aceitaram. Fiz o curso pois sabia que da próxima vez que visse um leopardo eu poderia segui-lo e encontra-lo.

O que mais vcs gostam sobre a arte de rastrear?

R: Adoro andar. Amo achar um animal apenas seguindo suas pegadas. Pra mim isso é uma grande conquista.

A: Eu adoro achar pegadas de animaisl. Depois tento adivinhar a “idade” da pegada e tentar ver tudo que pode ter acontecido ali apenas olhando as marcas no chão. Então começo a segui-las na certeza de que encontrarei o animal. Quando finalmente encontro, é uma sensação incrível.

Female jaguar track

Pegada de onça pintada fêmea

Qual a coisa mais difícil de ser tracker (rastreador)?

R: O tempo. Trabalhamos em várias condições diferentes de clima. Chuva forte, manhãs congelantes e temperaturas altíssimas.

A: A coisa mais difícil é que não estamos andando na cidade; quando se anda no mato, corremos o risco de encontrar algo perigoso a qualquer momento. Mosquitos, carrapatos, cobras e outros animais fazem parte do nosso cotidiano. Outra coisa diícil é ter que acordar muuuuito cedo.

Track of a small snake crossing the road.

Marca de uma pequena cobra cruzando a trilha

One of the methods we use to remove ticks is to use duct-tape to pull them off. Hard to believe, but if you look closely, you will see that every dot represents a single tick!

Uma das maneiras que usamos para tirar os carrapatos, é grudar uma fita na pele e puxa-la. Difícil acreditar, mas se olhar com cuidado vai ver que cada pontinho é um carrapato!

Qual a maior diferença entre o Pantanal e o Sabi Sands, na África do Sul ?

R: Os animais são bem diferentes. Aqui eles não são tão perigosos como lá. Lá na África temos sempre que estar bem ligados… Búfalos, hipopótamos, rinocerontes, elefantes, leões e leopardos podem estar por perto. Aqui no Pantanal não existem tantos animais perigosos.

A: Ah, meu amigo, a vegetação! Aqui ha uma combinação de mata fechada e pastagens abertas. Tbm tem muito mais água aqui do que lá na África. Do ponto de vista de se rastrear, lá no Sabi Sands temos mais animais que nos ajudam com o rastreamento. Usamos o alarme de impalas, pássaros, macacos e outros bichos. Aqui no Pantanal é mais difícil pois os outros animais não nos contam onde as onças estão escondidas.

Aerial view of the Pantanal - the largest wetland in the world, and one of the most remote places too.

Vista aérea do Pantanal – a maior planície inundavel do mundo.

Onças vs. Leopardos: quais são mais difíceis de achar?

R: Onças

A: Onças

A male jaguar, known to the project as Xavier, crosses the road in pursuit of a female.

O Xavier, onça macho do Projeto Onçafari cruzando a estrada em busca de uma fêmea

Qual a coisa mais difícil relacionada ao rastreamento de onças?

R: O terreno onde moram! A vegetação aqui é bem fechada; tbm existem muitas folhas caídas no chão, o que faz bastante barulho quando caminhamos. As onças nos ouvem vindo de longe e fogem antes que possamos ve-las. Outra dificuldade é a quantidade de bois, que pisam encima das pegadas de onças e nos dificulta seguir as mesmas. Ah, e tbm tem muita água, que a onça atravessa facilmente, mas pra nós é impossível.

A: O terreno! Como o Richard disse, é difícil encontrar pegadas e conseguir segui-las. Outra coisa complicada é o próprio modo de agir das onças. Uma vez que caçam alguma coisa, não ficam o dia todo por perto descançando. Elas vão pra bem longe durante o dia. Já os leopardos ficam perto de suas caças.  O que facilita encontra-los.

Andrea tracking in one of the forests of Caiman Ecological Refuge

Andrea rastreando em uma das matas do Refúgio Ecológico Caiman

O que os surpreendeu mais em relação as onças e ou seu comportamento?

R: Que quando mata algo, ela passa o dia bem longe dali. Ela não precisa proteger sua comida, como precisam os felinos na África. Tbm fiquei bem impressionado com o tamanho de suas pegadas. São enormes! Praticamente do tamanho das de um leão…

A: Tinha escutado falar que as onças eram bem tímidas e que sempre fugiriam de nós. Semana passada encontrei 5 onças e várias delas nos deixaram chegar a 20m de distância. Não é que sejam tímidas, precisam ser habituadas. E estamos provando que o processo esta funcionando. E funcionando relativamente rápido.

A male jaguar, known as Fantasma, tears apart the carcass of a cow.

Um macho de onça pintada, o Fantasma, se alimentando

Vcs estão ensinando dois Brasileiros a arte de se rastrear. Como fazem isso?

R: Primeiro precisamos encontrar pegadas. Quando as encontramos discutimos com eles tudo sobre aquelas pegadas. A idade, o comportamento do animal, a direção que estão seguindo, e etc…  Ai seguimos as pegadas. Bem devagar no começo. Olhamos cada pegada antes de passar para a próxima. Peço que eles olhem pra mim e vejam como me comporto. Eu tbm os treino a rastrear com a cabeça erguida afim de que vejam a onça antes de trombar com ela!

A: A primeira coisa é ensina-los a usar todos os seus sentidos. Rastrear não é somente sobre a visão. Tbm é preciso escutar e cheirar. Gosto de treinar o movimento de se rastrear… quero que consigam enchergar as coisas pela visão das onças. Assim que encontramos um animal, tbm temos que ter certeza que ensinamos nossos “estudantes” como se aproximar, ver o animal e deixar o local com segurança.

Nego, one of the trainee trackers, leads the way with the trainers behind offering advice.

Nego, um dos aprendizes, segue na frente com os professores atrás

Qual seu animal favorito no Pantanal?

R: Onça pintada…Na África são os leopardos… a primeira vista são bem parecidos. 

A: As onças, claro… mas tbm gosto muito dos tamanduás mirim. Tive um momento mágico vendo um subir uma árvore bem na minha frente.

The Lesser Anteater - without a doubt one of the specialities of the Pantanal!

Tamanduá mirim. Sem dúvida um dos animais mais especiais do Pantanal

Momento mais especial?

R: Ver uma onça parda pela primeira vez. Todos aqui já tinham visto e eu estava preocupado em sair daqui sem ver o segundo maior felino das Américas. Uma noite ficamos esperando de tocaia perto de duas carcaças que encontramos durante o dia. Não acreditava quando uma onça pintada fêmea chegou pra se alimentar. Logo depois, a 50metros de distância vimos uma onça parda se alimentando na outra carcaça. Eu estava estacionado entre os dois maiores gatos do continente.

An exceptionally rare picture of a Puma as she starts to feed on a carcass no more then 40 meters from the car!

Rara foto de uma onça parda ao começar se alimentar de uma carcaça de boi, a 50m de nosso carro.A: Andar de canoa pela primeira vez. Não tinha idéia de como fazer e estava preocupado em cair na água. Depois de um tempinho me acostumei e amei a experiência.

You will notice their approach to paddling was rather different - they could not work out how to turn around. They resolved this issue by facing in opposite directions, that way they never had to worry about turning as someone was always facing the right direction.

Maneira um pouco estranha de remar. Não conseguiam virar a canoa.  Decidiram cada um ficar de frente pra um lado da canoa. Assim quando quisessem virar era só um deles remar.

Melhor avistamento de onça pintada nos últimos dois meses?

R: Xavier (Macho) e Esperança (fêmea). Foi inacreditavel ver um casal de onças adultas bem tranquilas em relação a nossa presença. Amei ve-las, sentadas, deitadas e depois andando. Na maioria temos que trabalhar duro para encontra-las, mas nesse dia estavam deitadas do lado da trilha!

A: Quando encontramos o filhote de 4 meses da Esperança. O rastreamos por algumas horas.Não estávamos a mais de 15m quando ele apareceu em nossa frente. Nunca esquecerei aquele momento. O que tornou aquele momento ainda mais especial foi que nossos “alunos” (Nego e Diogo), foram os responsáveis por encontra-lo… Foi prova de que nosso trabalho esta funcionando.

Esperanza crosses the road in front of us. The forests provide the perfect setting for a day time retreat of a jaguar.

Esperança cruzando a estrada na nossa frente. A mata fechada oferece um bom refúgio para as onças durante o calor do dia

Qual a diferenca que a arte de rastrear fez em sua vida?

R: Antes de me tornar um rastreador nunca tive oportunidade de viajar, nunca teria vindo ao Brasil ou mesmo teria deixado a África do Sul. Essa oportunidade foi incrível pra mim. Agora tbm tenho um emprego constante. Como o responsável pelo futuro de minha família, isso é muito importante pra mim.

A: Amei aprender sobre diferentes culturas, pessoas e línguas. Antes nunca teria tido a oportunidade de conhecer pessoas de tão longe. Agora conheço pessoas de todos os cantos do mundo. Todos me ensinam muito e estou me educando cada vez mais. Sou mais consciente das coisas hoje em dia. Tbm comecei a fotografar. Amo tirar fotos e poder compartilhar minhas memórias com meus amigos.

O que vc mais sente falta da África?

R: Muito simples… minha família e amigos. Estão muito longe daqui!

A: A comida. Aqui comemos arroz e feijão todos os dias. Não estou acostumado com isso. Tbm sinto falta da minha família e amigos. tenho um filho de 3 meses de idade e sinto falta dele. Não vejo a hora de encontra-lo e vê-lo crescer.

Qual a primeira coisa que vai fazer quando chegar em casa ?

R: beijar minha esposa

A: Não posso te falar (rindo)

Entrevistados por: Adam Bannister