Texto por Livio Oricchio
Pense na seguinte situação: você tem duas áreas, digamos duas grandes fazendas, intocadas, sua natureza resplandece. Seu objetivo é manter saudável o ecossistema de ambas, proteger as espécies animais e vegetais. Mas há entre as duas áreas uma importante faixa de terra em que o proprietário não tem preocupações ambientais.
Já imaginou como seria sensacional se essa faixa de terra pudesse ser incorporada às suas duas e formar um único e extenso território, permitindo aos animais deslocarem-se por todo aquele meio ambiente? Dá para supor o quanto a vida selvagem capitalizaria com um ecossistema equilibrado e bem cuidado dessa dimensão?
Pois essa preciosa faixa de terra a que nos referimos tem nome: corredor ecológico. Esse recurso conservacionista tem se mostrado um instrumento de enorme relevância na preservação de grandes áreas no Brasil.
O Onçafari trabalha duramente para estender tanto o seu número de corredores ecológicos como ampliar as dimensões dos já existentes. Gostaria de lembrar que quando falamos de animais, por exemplo, como onça-pintada e lobo-guará, foco maior dos estudos do Onçafari, é preciso pensar grande, pois ambos exigem áreas de tamanho considerável para prosperarem como espécie.
A bióloga-chefe do Onçafari, Lilian Rampim, acompanha de perto o trabalho de levantamento de áreas com potencial para serem incorporadas ao seu patrimônio, definindo novos corredores ecológicos. “Nós nos transformamos em donos dessas terras. E quando a gente é o dono, nós cuidamos”, afirma.
Sucesso de imediato
Veja este exemplo: ao norte da fazenda-base do Onçafari, aqui na Caiman (pertencente ao município de Miranda, no Mato Grosso do Sul), há uma fazenda, a Santa Sofia, com 34 mil hectares, ou 340 quilômetros quadrados. E a Fazenda Caiman tem 53 mil hectares, ou 530 quilômetros quadrados.
Grandes, não? Sim, mas quer saber? Não demasiadamente grandes quando o que se busca é conservação de ecossistemas mais complexos, com a presença de muitas e diversas formas de vida, animal e vegetal, como é o caso da pluralidade do Pantanal.
Trânsito livre. E seguro.
Olha que notícia espetacular: junto com os seus valiosos parceiros, o Onçafari conseguiu adquirir a fazenda Santa Sofia e passou a preservar uma área de nada menos de 87 mil hectares, ou 870 quilômetros quadrados, resultado da integração com a Fazenda Caiman. Outra referência, pense em alguma coisa como 30 quilômetros de um lado e 29 do outro. Melhorou, concorda?
Envolvimento do Estado
A coisa ganha uma dimensão ainda maior quando sabemos que a ideia dos corredores de conservação sensibiliza também os responsáveis pela gestão ambiental no país, como lembra o biólogo e guia do Onçafari Lucas Morgado. “Já há exemplos de áreas privadas integradas com áreas públicas de preservação.”
Morgado dá mais detalhes: “Sim, um proprietário consegue estabelecer com um parque estadual ou mesmo uma reserva indígena uma extensa área protegida, um grande corredor ecológico”.
O Onçafari está sempre atento ao que pode ser feito nesse sentido, como explica o biólogo: “Nós identificamos locais importantes para serem preservados, já ameaçados pelo desmatamento, mas com áreas públicas e privadas próximas, e tenta estabelecer parcerias com as autoridades ou empresários com o propósito de criar novos corredores ecológicos ou aumentar os já existentes”.
Visão 360 graus
O bom dessa história toda é que esse estado de vigília àquilo que pode ser feito para elevar as áreas de preservação se estende a todos os biomas de atuação do Onçafari: o Pantanal, a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica.
“No Estado do Mato Grosso, o Onçafari conseguiu adquirir a fazenda São Francisco do Perigara (com 24.900 hectares ou 249 quilômetros quadrados) e estamos aos poucos comprando ou conversando com os donos de áreas vizinhas para favorecer a circulação sem barreiras dos animais”, diz Lilian Rampim.
Esses estudos mostram ser preciso haver um certo sentido na geografia das áreas para a criação dos corredores ecológicos. “Não adianta nós fazermos grandes esforços para comprar uma propriedade aqui perto de nossa base na Caiman (com mencionado, no Mato Grosso do Sul), e outra na fronteira com Goiás, por exemplo (distante 650 quilômetros), não haveria como criar um corredor ecológico, daí a importância de trabalhar com os vizinhos”, explica a bióloga.
O Onçafari também já administra um corredor ecológico na Amazônia, próximo a sua sede localizada na Pousada Thaimaçu, nas margens do Rio São Benedito, no sul do Pará. “É pequeno, por enquanto, mas de pouquinho em pouquinho a gente está chegando lá também na Amazônia”, afirma a bióloga.
O governo federal está envolvido na criação e preservação de corredores ecológicos através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e parceiro do Onçafari em vários projetos.
Um bom exemplo é o corredor ecológico criado com a integração entre os parques Nacional da Serra da Capivara e da Serra das Confusões, no Piauí, e o corredor ecológico da Região do Jalapão, em Tocantins, dentre outros.