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A pesquisa do Onçafari no Cerrado entra em nova fase: a instalação de colares com GPS em uma onça-preta (onça-melânica) e uma pintada, em parceria com a Pousada Trijunção, enche os seus biólogos e veterinários de entusiasmo.

O ciclo vital das onças-pintadas e pardas no Pantanal Sul-Mato-Grossense é relativamente bem dominado pela equipe de biólogos, veterinários e guias turísticos do Onçafari, afinal o grupo realiza seus estudos e experimentos nesse bioma desde 2011, embora sempre haja o que aprender.

Já quanto ao comportamento de onças no Cerrado, outro bioma onde o Onçafari atua, a realidade é bem distinta. Há muito ainda por ser feito, em razão de o projeto ter começado, a rigor, há pouco mais de um ano atrás.

Os animais vivem em um ambiente de características completamente diversas, com hábitos alimentares, reprodutivos e de deslocamento, por exemplo, que pouco têm a ver com os bem descritos pelo grupo profissional do Onçafari no Pantanal.

É por esse motivo que a captura de uma onça-pintada e uma onça-melânica, este mês, próxima à base do Onçafari no Cerrado, na Pousada Trijunção, na divisa entre Bahia, Minas Gerais e Goiás, deixou a equipe de pesquisa entusiasmada. Em poucos dias, já foi possível perceber a extensão da perspectiva criada.

Onça-melânica é a chamada onça-preta. Trata-se da mesma espécie, onça-pintada, mas alguns indivíduos por uma mutação genética produzem uma porcentagem maior do pigmento melanina, conferindo-lhe a cor escura.

Vale também explicar que “capturar um animal” significa sedá-lo com um dardo anestésico e aproveitar para a análise clínica, recolher material para exames laboratoriais, realizar medições e instalar um colar equipado com GPS, capaz de permitir o monitoramento da sua movimentação de forma remota e com grande riqueza de detalhes.

O biólogo Eduardo Fragoso lidera os trabalhos do Onçafari com onças-pintadas no Cerrado. “Dispomos, agora, de excelente oportunidade para elevar nosso conhecimento da vida desses animais no bioma. Outro foco do estudo é ver como eles estão reagindo à transformação, em curso, do meio ambiente, pelo avanço do agronegócio não sustentável”, diz. “O conhecimento adquirido com o monitoramento via satélite dos animais será essencial para nos orientar a definir quais áreas podem ser usadas para a criação de corredores ecológicos.”

A ideia é fazer o que já se faz em outras regiões do Brasil, ou seja, criar corredores entre áreas protegidas a fim de garantir que naquela porção de terra nada poderá ser feito, por ser de preservação ambiental. Em geral suas dimensões são grandes.

Projeto estendido

Parte dos 33 mil hectares da área da Pousada Trijunção faz fronteira com os 230 mil hectares do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. O estudo do Onçafari espalhou câmeras trap nas duas áreas. As imagens obtidas somadas aos dados gerados pelo colar GPS permitirão aos pesquisadores responder muitas das suas questões.

Por exemplo: entender seus padrões de movimento, reprodução, alimentação, como caçam, quais são as suas presas, já que existem em número bem menor que no Pantanal, como se protegem em uma área de poucas e pequenas árvores e se atacam também a criação de fazendas próximas, dentre outras descobertas.

É importante destacar que o Cerrado é o ambiente natural do lobo-guará, também estudado pelo Onçafari, e eles já são monitorados com colares GPS desde 2018.

A incidência de onças-melânicas nessa região do Cerrado é relativamente grande. No Pantanal, por exemplo, não há registro da sua existência. A caça e a pressão do desmatamento não controlado para o plantio de soja, milho e braquiária no entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas representa um risco para a sua sobrevivência.

“O respeito dos profissionais da Pousada Trijunção aos protocolos sustentáveis para conciliar produtividade agrícola com conservação ambiental mostra ser perfeitamente possível a coexistência dessas duas atividades”, afirma Fragoso.

O projeto do Onçafari no Cerrado visa garantir que não apenas onças, pintadas, pretas, ou pardas, e lobos-guarás sigam dispondo do meio ambiente para existir, mas de toda a fauna e flora. “Sonho para que a onça-preta se transforme em um símbolo da resistência na luta pela conservação do Cerrado”, afirma Fragoso.

Para conferir mais detalhes e imagens da onça capturada acesse https://www.instagram.com/p/CuFnskMP-_A/

Fotos por Edu Fragoso