Uma das nossas principais frentes de atuação é o Onçafari Science, que tem como objetivos: monitorar o comportamento das onças-pintadas e dos lobos-guarás em relação à atividade turística; avaliar constantemente o estado de saúde dos animais, além de desenvolver pesquisas em ecologia e fisiologia, aumentando o conhecimento científico sobre essas espécies e potencializando sua proteção.
Para conseguir realizar o monitoramento de forma mais efetiva, com a menor interferência humana possível, nós utilizamos três principais ferramentas: rastreamento, armadilhas fotográficas e rádio-colares.
Os rádio-colares permitem que saiamos diariamente para o campo na busca ativa pelos animais, na tentativa de encontrá-los e aprender mais sobre seus comportamentos e interações em vida livre. Hoje, nossos equipamentos consistem em alguns colares de GPS e outros de VHF. Você sabe a diferença?
Rastreamento por rádio (VHF)
Usado desde meados do século passado, esse é o modo mais comum de rastreamento de animais em vida livre. Permite monitorar espécies que vão de abelhas a baleias!
Esse método precisa de dois dispositivos principais: um transmissor e um receptor. O primeiro é ligado ao animal, seja de formas mais invasivas que necessitam de cirurgia para a implantação do equipamento, ou acoplados a dispositivos externos, como pulseiras, coletes e colares. Seu papel é emitir um sinal analógico de alta frequência ou VHF (Very High Frequency, em inglês), que nada mais é do que uma onda eletromagnética, a mesma usada para a transmissão de rádio e televisão. Cada transmissor é pré-programado com uma frequência única, funcionando como estações distintas de um rádio doméstico, permitindo localizar cada animal individualmente.
Aqui no Onçafari, o dispositivo fica acoplado a uma coleira – o rádio-colar — e colocado em volta do pescoço de onças-pintadas e lobos-guarás. Os colares GPS/VHF que colocamos em onças-pintadas no Onçafari pesam em torno de 700 g, representando 0,7% do peso de um animal do referido porte. Para lobos-guarás, os colares são menores e ainda mais leves.
O segundo dispositivo é o receptor, que geralmente precisa estar conectado a uma antena para captar o sinal VHF emitido pelo transmissor. Tal sinal chega ao receptor em forma de bipes, indicando a presença do animal monitorado nas proximidades. Os receptores mais antigos eram analógicos, porém, as versões mais recentes são digitais e capazes de escanear automaticamente todas as frequências dos animais monitorados na área.
Como funciona na prática
Se algum animal com transmissor estiver dentro do alcance do equipamento receptor, bipes serão ouvidos. Um outro elemento importante para esse tipo de rastreamento, são as antenas, usadas na transmissão e captação do sinal VHF. No Onçafari, usamos dois tipos de antenas conectadas ao receptor: uma omnidirecional, que geralmente tem maior alcance e
é capaz de captar o sinal de todas as direções, sendo fixada no teto dos carros, e uma unidirecional, que
recebe o sinal mais forte de uma única direção, permitindo encontrar o animal monitorado com mais precisão.
Essa forma de rastreamento utilizando esses dispositivos é conhecida como radio-telemetria. Ela pode variar de poucos
metros à 25 km de alcance (no caso de monitoramentos aéreos). Neste caso, o pesquisador usa um receptor digital e uma antena unidirecional para captar o sinal de uma onça-pintada. Para detectar o rádio-colar, seu equipamento deve estar há poucos quilômetros do animal. O rastreamento do sinal pode ser feito a pé ou de carro.
Rastreamento por localização (GPS)
O GPS é uma das tecnologias mais recentes para monitorar a vida selvagem, gerando um volume muito maior de informações, se comparado com o VHF. Além disso, depois de instalado no animal, é possível acessar os dados remotamente, ou seja, sem a necessidade de seguir o animal em campo para coletar informações de localização. Este dispositivo capta e armazena as coordenadas geográficas obtidas pela triangulação de satélites em intervalos pré-determinados e com grande precisão. Os dados podem ser acessados de duas formas principais: via sinal UHF ou online.
No UHF (Ultra High Frequency, ou frequência ultra alta), o pesquisador precisa chegar a uma determinada distância do animal (equipado com transmissor), para estabelecer uma conexão remota (sem fio) e fazer o download das informações armazenadas. Outros dispositivos são capazes de enviar esse conjunto de dados para uma plataforma do fabricante do equipamento, o qual pode ser acessado pelos pesquisadores de forma online.
O uso da tecnologia GPS tem permitido a pesquisadores do mundo todo acessar informações extremamente valiosas para a conservação das mais diferentes espécies, muitas das quais já ameaçadas de extinção. Ela possibilita compreender a movimentação, a relação do animal com o seu habitat, horários de maior atividade dos animais e tamanho de territórios, entre outros dados, muitos dos quais seriam inviáveis ou teriam uma precisão muito menor através de outros métodos. No entanto, embora seja um método mais preciso e completo, também é significativamente mais caro.
Como nós do Onçafari utilizamos estas tecnologias?
Aqui no Onçafari, os colares instalados em onças-pintadas e lobos-guarás são programados para pegar uma localização a cada uma ou duas horas, e essas coordenadas geográficas são enviadas uma ou duas vezes ao dia para os pesquisadores. Isso significa que não recebemos as localizações dos animais em tempo real.
Os colares que usamos também são equipados com um dispositivo chamado drop-off, que faz o colar sair sozinho. Ele possui um relógio interno que faz uma contagem regressiva após a sua ativação. Depois de um período pré-programado de tempo, o colar se desprende automaticamente do pescoço das onças e lobos, sem a necessidade de recapturar os animais para retirar as coleiras.
Nós do Onçafari geralmente utilizamos colares com tecnologia mista, GPS e VHF.