Recentemente, nossa equipe observou um comportamento nunca antes visto no histórico das onças-pintadas que habitam o Pantanal. Um ato inesperado, que partiu de uma das fêmeas monitoradas, mostrou que o universo animal tem alguns padrões, mas nem tudo pode ser previsto.
COMPORTAMENTO INESPERADO
Normalmente, as onças macho costumam abordar as fêmeas no período de reprodução. Quando a fêmea está receptiva, eles tomam toda a atitude, ou seja, a seguem bastante, demarcam território e ficam “na cola” até que ela permita a cópula. E por não tratar-se de uma espécie monogâmica, os machos podem repetir esse processo com diversas fêmeas durante a vida.
A demonstração de receptividade das fêmeas sempre foi observada de maneira bem sutil, o que significa que elas não costumam tomar grandes atitudes, apenas demonstrar de maneira leve que estão abertas ao “jogo de sedução” dos machos.
Mas, uma mudança de comportamento nos pegou de surpresa no último mês. Gatuna, uma das onças monitoradas pela nossa equipe, demonstrou uma conduta mais agressiva, deixando de ser passiva no processo de conquista, e tornando-se um pouco mais “ativa”.
A OUSADIA DE GATUNA
Durante um avistamento, a equipe notou que a Gatuna havia rejeitado as investidas do macho Monteiro, demonstrando sua não receptividade à intenção de cópula. Até então, um comportamento esperado.
Contudo, no dia seguinte, uma atitude inesperada chamou a nossa atenção. A onça fêmea se aproximou de outro macho, o Corixo, inicialmente de forma sutil. Como eram dias bem frios, os dois deitaram juntos ao sol para se aquecer.
Em determinado momento, a Gatuna levantou e olhou para o Corixo, esperando que o mesmo levantasse também. Ele continuou deitado e ela, de forma surpreendente, “agarrou” o macho. Essa atitude agressiva demonstrou um comportamento totalmente novo no universo dos felinos. O normal é que os machos “agarrem” as fêmeas para introduzir o pênis, mas, neste caso, a fêmea “agarrou” o macho.
Possivelmente espantado, o macho não reagiu bem, brigando com a Gatuna num primeiro momento. Mas, passado o espanto, os dois copularam por diversas vezes como seria natural e esperado.
A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO NA GERAÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Assim como no caso das onças que sobem em árvores, o monitoramento se mostrou necessário e eficiente na geração de conhecimento científico. Observar o comportamento dos animais selvagens, com o mínimo de interferência humana possível, é a forma mais transparente de mapear hábitos, costumes e produzir conhecimento, com o intuito de usá-los à favor da conservação.
O caso da Gatuna pode ter sido apenas um caso isolado, ou pode ser que o padrão se repita daqui em diante, mas o importante é continuar observando, mapeando e gerando material para estudos científicos futuros.
O CORIXO é muito moço? A GATUNA foi criada em cativeiro, longe da mãe?
Não, ambas as onças são 100% selvagens, nascidas e criadas na natureza.
Gatuna tá assistindo muito malhação!