*Por Fábio Paschoal
O Onçafari usa a habituação para tornar os avistamentos de onças-pintadas por turistas mais frequentes e mais duradouros, e permite aos pesquisadores analisar comportamentos da espécie em vida livre e coletar dados que antes só eram obtidos com animais em cativeiro. O processo não envolve métodos de domesticação (como o oferecimento de comida e contato físico com humanos) e os felinos selecionados permanecem selvagens. “Um dos grandes diferenciais da habituação é que a interação para a onça é neutra, ou seja, ela não ganha e nem perde nada durante os encontros, desempenhando todos os comportamentos naturais da espécie. O animal também sempre tem diferentes opções para entrar no mato (rotas de fuga) quando não quer ser avistado”, diz Carlos Eduardo Fragoso, biólogo do Onçafari.
A técnica de habituação começou com leopardos, no Londolozi, em Sabi Sands, uma região da África do Sul que faz fronteira com o Parque Nacional Kruger e tinha animais de criação como principal fonte de renda. O conflito entre fazendeiros e animais selvagens era um grande problema. Então, guias da região começaram a seguir um leopardo até o animal se acostumar com o carro.
Leopardo, leão, rinoceronte, elefante e búfalo formam os Big 5, os animais mais desejados por turistas que vão à África. No entanto, o felino pintado é o mais difícil de ser encontrado na natureza. Quando as pessoas começaram a perceber que poderiam ir a um lugar onde ver um leopardo era quase garantido, Sabi Sands se tornou um destino cada vez mais procurado.
Os fazendeiros da área perceberam que o ecoturismo podia gerar lucro e passaram a investir em pousadas e a contratar pessoas da região para trabalhar como cozinheiros, camareiras, anfitriãs, rastreadores e guias. Os animais de criação cederam seus lugares para a vida selvagem, Sabi Sands se tornou uma reserva e um dos melhores lugares para ver leopardos na natureza.
O Onçafari adaptou a técnica para a onça-pintada no Pantanal. Um animal selecionado é seguido, dia após dia, até que ele pare de considerar os carros de safári como uma ameaça. O ideal é escolher uma fêmea. Quando ela tiver filhotes vai ensinar tudo para os pequenos. Assim, a habituação aos veículos será passada para a próxima geração.
Ceva
A ceva consiste em oferecer comida para atrair animais selvagens e facilitar encontros com turistas. A prática diminui a distância de conforto das onças-pintadas com os seres humanos e elas começam a chegar cada vez mais perto. Com o tempo, o felino pode passar a associar a figura humana com alimento e, se não receber comida, pode atacar. A onça também pode ficar dependente dessa relação e deixar de caçar ou procurar alimento de forma natural. Isso vale para outros animais também.
Em 2013, após denúncia feita pelo Instituto Homem Pantaneiro – que apresentou vídeos que comprovam a ceva de onças-pintadas no trecho que vai da parte urbana de Corumbá até Porto Jofre, no Pantanal Norte –, o Ministério Publico Federal do Mato Grosso do Sul recomendou às Fundações de Turismo e de Meio Ambiente de Corumbá/MS o fim da prática de ceva de animais silvestres no Pantanal Sul-Mato-Grossense já que a prática configura crime ambiental e pode expor turistas a ataques.
Em 2015, a Resolução número 8, de 28 de abril de 2015, editada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Econômico (Semade) do Mato Grosso do Sul estabeleceu a proibição da alimentação ou ceva de mamíferos silvestres de médio e grande porte em vida livre para atrair e aumentar a chance de observação ou garantir sua permanência em determinada localidade.
Por todas essas razões, o Onçafari nunca utilizou a ceva durante sua existência e acredita que não há privilégio maior do que encontrar uma espécie livre na natureza desempenhando todos os seus comportamentos naturalmente.
*Fabio Paschoal é biólogo, jornalista e guia de ecoturismo. Foi editor e repórter de National Geographic Brasil por 5 anos e hoje é produtor de conteúdo do Onçafari e da GreenBond
[…] meio da campanha de captura e a prioridade era achar um lobo sem colar para iniciar o processo de habituação. Mas Valquíria Cabral (Val) e Wellyngton Ayala, biólogos do projeto, disseram que o animal estava […]
[…] O que vem em sua mente quando pensa em safári? Aposto que a palavra “África” deve ter brotado. Há décadas, países africanos são considerados os melhores lugares para safáris do mundo. Lá, é possível ver animais selvagens em seu habitat natural, de perto, tudo de dentro do carro. Esse sucesso todo é devido à anos de desenvolvimento do ecoturismo na região, à infraestrutura criada pelos países que desenvolvem safáris, mas principalmente graças à habituação. […]