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Turistas observam onça-pintada junto com a equipe do Onçafari e do Refúgio Ecológico Caiman, no Pantanal – Foto: Edu Fragoso

*Por Fábio Paschoal

A onça-pintada está na lista de desejos da maioria das pessoas que visita o Brasil em busca de vida selvagem. Gente do mundo inteiro vai ao Pantanal na esperança de um encontro com esse predador formidável, mas nem todo o mundo sabe o que pode acontecer durante um safári fotográfico em busca da Panthera onca.

Na maioria das vezes, nosso primeiro contato com a espécie é através de fotos ou documentários que mostram os melhores momentos da vida de uma onça-pintada. Fotógrafos e documentaristas passam horas, semanas, meses e até anos para conseguirem a imagem ou sequência que desejam. Para não ficar frustrado e realmente apreciar a beleza do maior felino das Américas, fizemos uma lista com 5 fatos que você precisa saber sobre onças-pintadas antes de fazer um safári com o Onçafari.

Equipe do Onçafari e da Tracker Academy (da África do Sul) rastreando uma onça-pintada no Refúgio Ecológico Caiman, no Pantanal- Foto: Onçafari

1 – Achar uma onça-pintada é um processo que demanda tempo e dedicação

Onças-pintadas necessitam de grandes áreas para caçar e irão patrulhar seus territórios para protegê-los de invasores. Segundo o livro Panthera onca – À sombra das florestas, o território das onças-pintadas no Pantanal é de aproximadamente 30 Km². De acordo com o estudo Ecologia do Movimento e Dinâmica Espaço-Temporal da Onça-Pintada (Panthera onca) no Pantanal Sul do Brasil, no Refúgio Ecológico Caiman (REC), onde fica a base do Onçafari, a área vai de 7.42 a 37,73 Km². Rastrear os felinos não é uma tarefa fácil. Os guias do Onçafari precisam interpretar os sinais encontrados em campo e se colocar no lugar do animal para achar os felinos.

Nem sempre isso é possível e os rádios-colares ajudam nesse processo (hoje temos 10 onças monitoradas por essa tecnologia). “O colar é uma ferramenta que serve para entender a movimentação dos animais em seu habitat, descobrir os locais em que os bichos permanecem por mais tempo, entender melhor os horários de maior atividade, localizar presas abatidas (assim entendemos melhor os hábitos alimentares) e tocas (lugar onde elas tiveram crias). É uma tecnologia essencial para a pesquisa que acabamos conciliando com o ecoturismo,”  diz Carlos Eduardo Fragoso (o Edu), biólogo do Onçafari.

Dos 696 avistamentos de onças com o Onçafari em 2017, 249 (35,8%) dependeram do uso dos rádios-colares (VHF e/ou GPS) e 88% dos turistas avistaram o felino no REC (durante a estação seca, o número vai para 95,5%). Em 2018, 62 (11,46%) dos 541 avistamentos dependeram dessa tecnologia.

Em 2017, 7,2% dos avistamentos de onças-pintadas com o Onçafari foram em árvores. Em 2018 a porcentagem foi de 4% – Foto: Edu Fragoso

2 – Olhe para o alto. As onças sobem em árvores

Na Amazônia, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, durante o período da cheia, a onça-pintada deixa o solo e passa a viver na copa das árvores. Com incrível flexibilidade ecológica, o felino muda o comportamento e começa a caçar presas que vivem no dossel para continuar em seu território, mesmo quando a água inunda a várzea da maior floresta tropical do mundo. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa realizada pelo Projeto Iauaretê, do Instituto Mamirauá.

No Pantanal as onças também sobem em árvores, mas é bem provável que o motivo seja outro. Talvez elas procurem uma altura elevada para conseguir observar presas ou utilizem as árvores como refúgio para não serem incomodadas por mosquito ou evitar confrontos com queixadas. Talvez as árvores façam parte do território das onças e elas as utilizem para demarcação já que o cheiro se propaga melhor de alturas mais elevadas. O fato é que mais estudos são necessários e a equipe do Onçafari começou um projeto com armadilhas fotográficas para entender esse comportamento.

Nem sempre as onças estão ativas durante o avistamento – Foto: Edu Fragoso

3 – Nem sempre as onças estão ativas durante o avistamento

Elas não são preguiçosas, mas certamente descansam bastante. As onças-pintadas são predadores oportunistas e irão gastar energia somente nos momentos necessários. Assim, não é incomum encontrá-las descansando na sombra ou dormindo, especialmente quando está muito quente. Segundo o livro Panthera onca – À sombra das florestas, as onças-pintadas são mais ativas em períodos mais frescos, preferencialmente no final de tarde, começo da manhã ou à noite. Alguns especialistas consideram a espécie noturna, mas novas tecnologias apontam que o período de atividade da onça está relacionado com fatores ambientais e, muitas vezes, acompanham o período de atividade das presas preferenciais. Em 2018, no REC, 310 avistamentos (57,3%) foram durante o dia (entre 6h01 e 18h00) e 231 (42,7%) foram durante a noite (entre 18h01 e 6h00). Os dados do Onçafari sugerem que onças mais jovens ou fêmeas com filhotes costumam se deslocar mais durante o dia quando comparadas com onças adultas e sem filhotes.

Seja paciente, o animal que você está observando pode dar sinais que está ficando mais ativo. Um bocejo, espreguiçada ou uma simples coçadinha pode significar que o felino pode entrar em movimento. Fique atento se uma presa fácil estiver ao alcance – independente da hora – a onça pode tentar uma investida. Se um de nossos guias diz que vale a pena esperar um pouco, confie na informação e prepare a sua câmera.

4 – As presas podem botar uma onça pra correr

A onça-pintada é uma excelente caçadora e pode pegar presas grandes. O gado é uma presa que faz parte do cardápio da Panthera onca. No entanto, nem sempre o maior felino das Américas leva vantagem. Catetos e queixadas possuem presas afiadas e podem colocar uma onça pra correr. O tamanduá-bandeira se levanta, abre os braços e, com as garras afiadas, pode dar um abraço fatal em uma onça-pintada.

A onça é um predador forte e poderoso, com uma mordida capaz de quebrar cascos de jabutis. Mas também sabe quando é preciso se retirar de uma batalha.

5 – Onças-pintadas voltam para se alimentar de presas abatidas

Quando uma onça-pintada pega uma presa de grande porte, ela não consegue acabar com tudo de uma vez. Frequentemente o felino volta no dia seguinte e no posterior para se alimentar novamente.

Ao achar uma presa que foi morta por uma onça vale mais a pena fazer uma espera ao lado da carcaça do que rodar com o carro procurando pegadas ou o sinal de VHF dos colares. Vale lembrar que uma parte importante do processo de habituação no início do Onçafari foi feito com onças em carcaças. Em 2017, 109 avistamentos de onças-pintadas com o Onçafari (15,7%) ocorreram na presença de carcaças. Em 2018, 92 (17%) dos avistamentos ocorreram na presença de carcaça.

De qualquer maneira, ver uma onça-pintada na natureza é uma mistura de respeito e admiração. É um sentimento extraordinário que você irá entender somente após passar por essa experiência, que ficará gravada na memória para o resto de sua vida.

*Fabio Paschoal é biólogo, jornalista e guia de ecoturismo. Foi editor e repórter de National Geographic Brasil por 5 anos e hoje é produtor de conteúdo do Onçafari e da GreenBond

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