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No dia 11 de fevereiro, a equipe do Projeto Onçafari presenciou uma cena totalmente incomum entre as onças-pintadas: mais de uma onça consumindo e compartilhando o mesmo alimento.

Encontramos um bezerro abatido por onça-pintada pela manhã. No final da tarde, estacionamos nossa Mitsubishi Triton cerca de 60 metros da carcaça e aguardamos no intuito de observar alguma onça chegando perto para se alimentar.

MMC – Triton Savana

Após 30 minutos de espera, avistamos a primeira onça-pintada: um filhote com cerca de 9 meses de idade, que não se aproximou da carcaça, apenas ficou nos observando.

Nusa, a filhote mais jovem da Teorema.

Após mais 10 minutos, observamos sair da mata bem ao nosso lado, um macho conhecido, o “Xavier” que chegou bem próximo do filhote sentiu seu cheiro e foi se alimentar da carcaça. Esse tipo de interação entre um macho adulto e um filhote nunca foi registrado aqui no Refúgio Ecológico Caiman.

Macho adulto de onça-pintada do Refúgio Ecológico Caiman

Depois de se alimentar por mais de 20 minutos, Xavier deitou cerca de 10 metros da carcaça, dando todos os indícios de satisfação. Se fosse com humanos diríamos que era a hora da “ciesta”. Pouco tempo depois, avistamos sair de dentro da mata, bem próxima ao filhote, uma fêmea monitorada por radio-colar, a Teorema. Somente depois que ela apareceu, descobrimos quem era o filhote: tratava-se de Nusa, filha da Teorema.

Mãe e filha, Teorema e Nusa.

Observando a mãe deitada na beira da mata, Nusa foi até a carcaça e se alimentou por mais de 25 minutos. Quando Nusa acabou de comer, Teorema iniciou a ingestão de partes da mesma carcaça. Tudo isso ocorreu cerca de 10 metros do macho adulto Xavier.

Xavier, deitado após se alimentar.

Estes comportamentos são, no mínimo, incomuns e um tanto desconhecidos nos meios científico e popular. Registros mais comuns indicam que onças-pintadas são animais de hábitos solitários. Visualizar três onças-pintadas compartilharem do mesmo alimento, mesmo que cada uma aguardando a sua vez é algo realmente notável e inesquecível.

Macho adulto próximo de uma carcaça e uma filhote ao fundo.

Foi observada certa hierarquia, porém sem sinais de ameaça ou hostilidade. Por isso a equipe do Projeto Onçafari questiona possíveis graus de parentesco entre essas onças.

Será que o macho adulto tolerou a filhote, por ser sua filha e carregar seus genes?

Será que a fêmea aceitou ficar próxima ao macho com sua filha por serem parceiros?

“Possível” pai e filha, juntos.

Agora, a equipe do Projeto Onçafari trabalha para tentar desvendar respostas sobre esses comportamentos, tentando rastrear esses animais com mais frequência, utilizando como ferramentas a busca diária por rastros, registros em armadilhas fotográficas e avistamentos.

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