Uma onça pintada fêmea matou um bezerro. Ela o arrastou para o mato para ficar um pouco mais escondido. Mas não arrastou o suficiente para dentro da mata e em poucas horas centenas de urubus já estavam se deliciando na carcassa. Uma mensagem tinha sido mandada pelos ares que carne fresca estava disponível.
Essa fêmea é conhecida por nós como Teorema. Ela é uma das onças estudadas e possui um colar com VHF, GPS etransmissão via satélite, o que nos permite saber seu território além de várias outras informações que serão importantes na conservação de sua espécie. Esses animais são muito pouco conhecidos e essas informações são essenciais.
Seguindo o sinal do VHF percebemos que a Teorema estava por ali. Anoiteceu. Ficamos no carro a cerca de 50 metros da carcaça e esperamos. É um jogo de paciência!
Quinze minutos depois escutamos um movimento perto do bezerro morto. Ao iluminarmos a carcassa vimos uma onça pintada se alimentando. Com uma mão eu iluminava a carcaça e com a outra segurava o binóculo.
Essa onça não tinha colar!
Pensei que estava vendo errado e mais uma vez olhei com o binóculo. De novo vi que a onça que se alimentava não tinha colar. Peguei o receptor de VHF e apontei para a carcassa. Ele acusou o sinal da Teorema. Fiquei muito surpreso! Olhei bem para as pintas e rosetas da onça e como se fossem impressões digitais consegui descobrir que aquela onça que se alimentava era a Garoa, filhote da Chuva.
Meu coração batia a mil por hora, duas onças, sem parentesco a metros de distância uma da outra. Será que a Teorema sabia que outra onça estava se alimentando da sua caça? A resposta veio instantaneamente. Foi tão rápido que não tive tempo de pegar minha máquina fotográfica. A Teorema explodiu da mata em direção a Garoa. Numa velocidade inacreditável!
Escutei mais do que vi… Rosnadas e sturros… A Garoa não tinha chance. Ela é muito menor e mais jovem do que sua oponente. Sua única opção era aceitar a derrota. Ela o fêz rapidamente. Virou de barriga para cima com as costas no chão. Com as patas para cima e com o peito exposto, ela se mostrou submissa. A Teorema soltava fumaça pela boca, com os caninos aparentes e prontos para o ataque. Mas felinos normalmente evitam confrontos físicos. Algumas rosnadas e foi o bastante para que a Teorema re conquistasse sua caça.
Ela calmamente se virou e foi se alimentar…
Mas não acabou por ai… Um grupo de queixadas curioso com a comoção, veio investigar o que estava acontecendo. A garoa calmamente se levantou, se limpou e começou a demonstrar interesse nos queixadas. Ela correu e caçou uma enorme fêmea de queixada a 100metros de onde a Teorema se alimentava. O barulho dessa caçada foi muito impressionante. Mas a Teorema nem parecia ouvir, ela continuou comendo tranquilamente.
No dia seguinte, imagens de uma armadilha fotográfica nos mostraram que 2h depois, a Teorema foi embora. Apenas 10min se passaram, a Garou surgiu e tbm se alimentou do bezerro. Por algum motivo ela havia deixado sua caça e vindo se alimentar na caça da Teorema… Difícil de explicar.
Que privilégio ter presenciado essa interação entre duas fêmeas selvagens! Agressivas mas ao mesmo tempo até que tolerantes uma com a outra.
Continuamos descobrindo mais sobre a misteriosa vida das onças…
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Escrito e fotografado por Adam Bannister