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Escrito por: Livio Oricchio

Grande Sertão: Veredas. Não, não é o que você está pensando, o histórico romance do grande escritor mineiro João Guimarães Rosa, mas o parque nacional de mesmo nome, no noroeste de Minas Gerais, de abundante e diversificada vida selvagem.

Próximo desse símbolo do cerrado, o Onçafari mantém uma de suas bases, na tríplice fronteira entre Minas, Goiás e Bahia, na Pousada Trijunção, onde a estrela é o lobo-guará. O grupo formado por biólogos e veterinários, dentre outros, estuda principalmente o maior canídeo da América do Sul e como reintroduzi-lo no seu habitat natural. Voltaremos a falar desse trabalho único.

A riqueza de vocábulos originais, recursos linguísticos, bem como a elegante descrição do cenário e a força e profundidade da trama fazem do envolvente livro de Guimarães Rosa um marco da literatura brasileira. Mas se você observar a extensão da variedade de espécies do Parque Grande Sertão Veredas verá que associar a obra artística ao esplendor da sua natureza, conferindo-lhe o mesmo nome, é uma ideia das mais felizes. Seria falta de sensibilidade não enxergarmos grande coincidência conceitual.

Quem se desloca por Brasília não pode imaginar que a cerca de quatro horas de carro da capital o visitante do Parque Grande Sertão Veredas tem a chance de vivenciar a inesquecível experiência de ver o lobo-guará no seu ambiente e, com certeza, aves, muitas e diversificadas. No mínimo.

 

Natureza preservada

O biólogo Eduardo Fragoso realiza pesquisa científica para identificar as espécies do parque. Em reportagem produzida pelo Globoplay, diz:

“Com o uso de câmeras, já identificamos mais de 20 espécies de mamíferos, muitas aves, algumas ameaçadas de extinção. Aqui todos vivem em um ambiente equilibrado”.

O Parque Grande Sertão Veredas se estende por uma impressionante área de 2.300 quilômetros quadrados, ainda intocados. “Nosso objetivo é levar tudo isso ao conhecimento da população a fim de proteger o parque, levá-la a sentir orgulho do lugar”, diz Fragoso.

No livro de Guimarães Rosa, lançado em 1956, o personagem principal, Riobaldo, é um sertanejo, um jagunço, que relata a um interlocutor não nomeado na obra a dura vida do sertão, da região agreste. Jacinto Pereira é o sertanejo ouvido pela reportagem, morador hoje da terra adjacente ao parque, clímax do bioma do cerrado, a savana brasileira.

Sua fala denota grande semelhança com o ambiente descrito por Rosa no livro há quase 70 anos. Pouco parece ter mudado, o que ajuda a explicar a preservação da natureza na área.

“Essa é a nossa farmácia. Da folha do Chapéu-de-Couro fazemos chá bom para os rins. Da Sambadinha colocamos as folhas sobre os machucados, eles desincham e desinflamam. A raiz da Calunga na água serve para melhorar a sinusite”, diz, rindo, Pereira, sugerindo saber mais do que os laboratórios. “Viva o sertão.”

 

Rumo à base do Onçafari

Hora de subir novamente no SUV, quatro por quatro, e seguir para a saída norte do parque. Da entrada, no município de Chapada Gaúcha, apesar do nome é Minas, até a base do Onçafari na Pousada Trijunção, já no município de Jaborandi, na Bahia, pode-se colocar na conta umas quatro horas de deliciosa estrada de terra. Quer saber? A riqueza de cenários idílicos faz com que três, quatro horas no carro não representem sacrifício algum, bem pelo contrário, tudo respira harmonia.

Como o deslocamento é no fim da tarde, é possível observar várias revoadas de pássaros, como das agradavelmente ensurdecedoras araras, de cores e espécies distintas.

A pousada Trijunção também está em meio ao cerrado, com toda sua fauna e flora. Bárbara Couto é uma das biólogas do Onçafari que tem na área da hospedaria seu centro de estudos.

“Nós monitoramos alguns dos lobos-guarás com uma antena de telemetria. Os colares que instalamos neles emitem sinais de rádio que captamos, permitindo localizá-los.”

 

Desenvolver conhecimento

Lilian Rampim é a bióloga-chefe do Onçafari. Apesar de concentrar sua pesquisa na sede de Caiman-Pantanal, em Miranda, no pantanal mato-grossense, e mais voltada para a reintrodução de onças, pintadas e pardas, acompanha os trabalhos do grupo de Bárbara Couto no cerrado.

“Não existe conhecimento prévio sobre como preparar, desenvolver os instintos de onças e lobos-guarás para poderem voltar à natureza”, explica. “Estamos desenvolvendo esse conhecimento, o desafio é inédito. E isso demanda tempo.” Mais: “Como começamos antes com as onças, já estamos obtendo êxito. Já com relação ao lobo-guará, precisamos de mais um tempinho, mas com certeza estamos no caminho certo”.

Um dos objetivos do Onçafari é fazer com que os animais sigam suas rotinas na natureza, sem interpretar os veículos com os turistas como algo potencialmente perigoso. Isso permite a sua observação.

“Buriti é um lobo-guará bem conhecido dos nossos guias, já não se importa com nossa presença”,

conta Bárbara Couto.

A bióloga especializada nos estudos do lobo-guará narra outra experiência: “Savana é um animal fêmea que conhecemos desde o nascimento. Hoje tem um ano e dois meses”. Seu comportamento tranquilo revela que já se acostumou com a presença dos pesquisadores e turistas.

 

Caixa d’água do Brasil

O bioma do cerrado merece um comentário especial de Bárbara Couto: “É uma floresta invertida. O que enxergamos é muito pouco em relação ao que existe embaixo da terra”.

Prossegue:

“As árvores do cerrado podem ser até três vezes maior por debaixo da terra, seriam as raízes, para ir lá no fundo buscar água, o que torna o cerrado um dos biomas mais importantes do Brasil no sentido de pegar a água e levar para outros biomas. Ainda: “Um dos apelidos do cerrado é que ele é a caixa d’água do Brasil”.

O Onçafari mantém bases em quatro dos seis biomas brasileiros: como vimos aqui, o cerrado, mais o da Amazônia, Mata Atlântica e do Pantanal. Restam dois outros biomas, a caatinga e o pampa.

 

Para assistir à matéria completa do trabalho do Onçafari no Parque Grande Sertão Veredas e na Pousada Trijunção acesse o link aqui.

É necessário fazer um cadastro, mas, não precisa pagar.