A Jaguar Rivers Initiative (JRI) é um esforço internacional que une quatro organizações sul-americanas: Onçafari (Brasil), Rewilding Argentina, Nativa (Bolívia) e Fundación Moisés Bertoni (Paraguai), com um objetivo ousado de criar um corredor ecológico de escala continental, conectando áreas naturais ao longo da Bacia do Rio Paraná para promover a restauração de ecossistemas da América do Sul.
A iniciativa se estende por quase 2,5 milhões de km² e tem como foco principal essa vasta região hidrográfica, uma das mais importantes do continente em termos ecológicos. É nesse território que diversas espécies, como a onça-pintada, encontram abrigo, alimento e rotas naturais para circular entre diferentes biomas.
Cada organização parceira contribui com longa experiência e atuação consolidada em seu país. A Fundação Rewilding Argentina lidera há 25 anos ações de restauração e reintrodução de espécies extintas, com 1,5 milhão de hectares protegidos e 11 parques criados na região. Na Bolívia, a Nativa atua na proteção de territórios indígenas e áreas naturais, apoiando o manejo sustentável de quase 10 mil hectares. Já no Paraguai, a Fundação Moisés Bertoni trabalha com conservação e desenvolvimento sustentável para reduzir a poluição hídrica, beneficiando 40 mil pessoas na região.
A onça-pintada, símbolo da biodiversidade brasileira, é a personagem principal da iniciativa, e sua presença é o elo comum que une os esforços das instituições parceiras. Mais do que uma espécie ameaçada, a onça é o fio condutor que revela o estado da natureza ao seu redor. Onde a onça consegue retornar, é sinal de que florestas, rios e toda a vida podem voltar a florescer, tornando-a um indicador de que o futuro ainda é possível.
Pilares
Para tornar essa reconexão possível, a Jaguar Rivers adota um conjunto de estratégias territoriais que funcionam como peças complementares de um grande quebra-cabeça ecológico.
As arcas (arks) são grandes áreas naturais bem conservadas que funcionam como refúgios principais da fauna e da flora. Essas áreas são o “coração” da biodiversidade local, onde espécies ameaçadas podem se reproduzir e viver com o mínimo de interferência humana.
Ao redor desses núcleos, entram as zonas de amortecimento (buffer zones), áreas entre os ambientes mais preservados e os alterados pela ação humana, que visam atividades de baixo impacto ecológico. A ideia é suavizar a transição entre o natural e o modificado, reduzindo o impacto direto sobre os habitats mais sensíveis e promovendo uma maior proteção da área.
Já os trampolins ecológicos (stepping stones) são pequenas áreas estratégicas de vegetação natural ou em recuperação que funcionam como “estradas” entre um ponto e outro; são refúgios que permitem a dispersão segura dos animais e reduzem os conflitos entre humanos e animais selvagens.
Mas é nos rios e planícies de inundação que a essência do projeto se revela com mais força, formando corredores vitais que conectam florestas, alimentam planícies, criam refúgios e traçam rotas para a fauna. Na Jaguar Rivers Initiative (Rios da Onça), eles não são apenas recursos hídricos: são corredores vivos, condutores da biodiversidade e símbolo do que o projeto pretende restaurar. A reconexão ecológica não acontece apenas na terra firme, ela também flui pelas águas.
O que hoje começa na Bacia do Paraná, deve expandir para a Amazônia e outras regiões do continente para conectar paisagens, recuperar espécies e restaurar a biodiversidade. São metas que incluem a criação de um corredor ecológico funcional, a recuperação de 20 espécies nativas, a redução das ameaças dos sistemas hídricos e a valorização de quem habita esses territórios. Se os caminhos abertos pela iniciativa se mostrarem possíveis, eles podem inspirar um novo modelo de conservação em todo o continente, guiado por uma nova geração comprometida com o futuro da biodiversidade.

Onçafari é o representante brasileiro
Por meio de corredores ecológicos, o Onçafari contribui com sua experiência na conservação dos biomas brasileiros, principalmente com sua atuação na frente de Florestas. O Onçafari protege propriedades com vegetação nativa ou em regeneração, muitas delas doadas por filantropos engajados na causa ambiental, e algumas dessas propriedades também são reconhecidas oficialmente como RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), reforçando seu compromisso com a conservação de longo prazo.Atualmente, a organização já mantém três grandes corredores ecológicos no Brasil, que juntos somam mais de 2 milhões de hectares em áreas de influência protegidas entre a Amazônia e o Pantanal. Com a Jaguar Rivers, esse trabalho ganha uma nova escala e passa a integrar um esforço internacional de reconexão ecológica. A expertise desenvolvida em campo pelo Onçafari agora contribui diretamente para ampliar a conectividade entre os países da região, transformando ações locais em um movimento coletivo que atravessa fronteiras e ecossistemas.
- Photo: Bruno Sartori
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Por que a Bacia do Paraná?
A Bacia do Paraná é considerada uma das regiões mais estratégicas da América do Sul para a conservação. Ela cobre aproximadamente 880 mil km² só no Brasil, e se estende também pela Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Essa bacia abriga rios de extrema importância, como o Paraná, Paranaíba, Tietê, Grande, Paranapanema e Iguaçu, que formam uma das maiores redes hidrográficas do continente.
Além de sua importância hídrica e socioeconômica, a Bacia do Paraná é um verdadeiro hotspot de biodiversidade. Em seu território, encontram-se áreas remanescentes de Mata Atlântica, Cerrado e outros ecossistemas únicos, muitos deles severamente fragmentados, mas ainda essenciais para a sobrevivência de inúmeras espécies.
Embora o Brasil concentre cerca de 15% a 20% da diversidade biológica global, sendo o país mais biodiverso do planeta, e a América do Sul enfrente algumas das maiores taxas de perda de biodiversidade do mundo, o continente ainda abriga extensas áreas naturais bem preservadas, conectadas por rios e zonas alagadas. O desmatamento causado pela urbanização e industrialização na Bacia do Paraná, por exemplo, ainda é relativamente baixo, tornando esse o momento ideal de preservar a região, e manter esse corredor ecológico intacto e selvagem.
Jaguar Rivers Initiative na Mídia
Desde seu lançamento, a Jaguar Rivers Initiative já foi destaque em mais de 10 reportagens nacionais e internacionais, evidenciando a relevância e o ineditismo da proposta. A iniciativa foi abordada por veículos como Paris Match, Folha de S.Paulo, BBC Brasil, CNN Brasil, ABC TV Paraguay, entre outros, alcançando diferentes públicos e ampliando o debate sobre conservação em escala continental. Essa visibilidade reflete não apenas a força da iniciativa, mas o poder de articulação entre países vizinhos em torno de uma causa comum. À medida que o corredor se fortalece, novas histórias continuarão ecoando além das fronteiras.
Ficou interessado em saber mais sobre a iniciativa? Acompanhe as redes sociais do Jaguar Rivers (@jaguar.rivers) ou entre no site!
Escrito por: Maria Julia Farias
Foto de capa: Lucas Morgado




