No dia 5 de setembro, o Brasil celebra o Dia da Amazônia. A data foi criada para marcar a criação da Província do Amazonas, em 1850, mas, com o tempo, passou a representar a reflexão sobre a importância, os desafios e a urgência da conservação do maior bioma tropical do mundo.
A floresta amazônica cobre cerca de 6,7 milhões de km², atravessando nove países sul-americanos, com a maior parte situada em território brasileiro, aproximadamente 60%, seguida por países como Peru, 13%, e Colômbia, 10%. Essa área abriga a maior bacia hidrográfica do planeta, com cerca de 1.100 afluentes e o Rio Amazonas, que sozinho lança 175 milhões de litros de água no mar a cada segundo.
Mas é a complexidade da biodiversidade local que confere à Amazônia seu papel no equilíbrio do planeta. A Amazônia, que corresponde a 5% da superfície terrestre do planeta e 40% da América do Sul, concentra aproximadamente 10% da biodiversidade global, com inúmeras espécies ainda não descritas pela ciência. Segundo a WWF Brasil, já foram registradas na Amazônia mais de 3 mil espécies de peixes de água doce, 1.300 de aves, 427 de mamíferos, 400 de anfíbios, 478 répteis, além de cerca de 40 mil espécies de plantas, e esses números continuam crescendo à medida que novas pesquisas são realizadas.
Desde que o Onçafari iniciou suas atividades na região amazônica, já realizou dezenas campanhas de monitoramento por meio de armadilhas fotográficas que contribuem com dados sobre a ocorrência de diversas espécies, entre elas onças-pintadas, onças-pardas, antas, jaguatiricas e até mesmo espécies raras, como o cachorro-vinagre e o cachorro-do-mato-de-orelha-curta. Esses registros, além de documentar a presença de diversos animais, auxiliam na construção de estratégias de conservação orientadas por esses dados.
A floresta também exerce influência direta sobre o clima global, sendo responsável por regular os ciclos de chuva em grande parte da América do Sul e contribuir para a estabilidade climática do planeta. Ou seja, preservar esse ecossistema não é apenas uma questão ambiental, como também climática e social.
”A Amazônia é um bioma que influencia os demais, seja pela dispersão da biodiversidade, já que se estende por diversos países e exerce um peso político importante, ou seja pelo controle do clima e da estação chuvosa em grande parte do país. Além disso, guarda o DNA ancestral de etnias tradicionais que habitam a região há anos.” – Geovani Tonolli, Coordenador de Base de Conservação da Pousada Thaimaçu
Por outro lado, a Amazõnia segue enfrentando desafios constantes, como o avanço do desmatamento, a grilagem de terras, a mineração ilegal e a construção de grandes empreendimentos com impacto socioambiental que têm colocado em risco a integridade do bioma. A floresta perdeu mais de 88 milhões de hectares entre 1985 e 2023, segundo análise do MapBiomas de 2024, uma área equivalente ao território da Colômbia. E, embora 2024 tenha registrado uma queda de 30% no ritmo de desmatamento, com cerca de 6.288 km² de floresta destruída entre agosto de 2023 e julho de 2024, de acordo com o estudo publicado pelo Inpe, a situação ainda exige vigilância e ação contínua.
Nesse cenário, iniciativas como a do Onçafari representam um esforço coordenado de conservação com base científica. Desde 2017, a organização atua na Amazônia, na Pousada Thaimaçu, onde desenvolve atividades de pesquisa, monitoramento de grandes felinos e reintrodução de animais. Além dessa base operacional, o Onçafari atua também na parceira Anavilhanas Jungle Lodge e conta com quatro propriedades próprias na região, áreas estratégicas para a criação de corredores ecológicos, conectando diferentes fragmentos de floresta e permitindo o deslocamento seguro de espécies. Essas propriedades, protegidas e manejadas para conservação, cumprem o papel de refúgios e zonas de passagem para a fauna, além de contribuírem com a proteção dos recursos hídricos e da vegetação nativa.
O Onçafari, por ser uma ONG multifacetada, desempenha um papel estratégico na região da Amazônia onde está inserido, a qual vem sofrendo intensas pressões relacionadas ao desmatamento, à caça e ao garimpo ilegal. A atuação ocorre por meio do monitoramento da biodiversidade, da prevenção de incêndios florestais e da gestão de áreas anexas a uma importante unidade de conservação: o Refúgio de Vida Silvestre Rios São Benedito e Azul, completa Geovani.
BEST OF TRAPS: ANAVILHANAS DEZ/24 A MAR/25
Legenda: imagens de câmera trap de Anavilhanas Jungle Lodge, na Amazônia, num período de 3 meses
O trabalho de campo envolve a instalação de armadilhas fotográficas (câmeras trap), o rastreamento de pegadas e fezes, além do uso de tecnologias como colares com GPS, que envia pontos de localização a cada uma hora. Esses dados são fundamentais para entender padrões de comportamento, dinâmica populacional e interações ecológicas.
Outro pilar importante da atuação do Onçafari na Amazônia é a frente de reintrodução. Os felinos passam por um período de reabilitação em ambientes controlados que simulam o habitat natural, com o mínimo de contato humano, para estimular seu comportamento selvagem e promover sua independência até estarem aptos para retornar à vida livre. Em 2019, as fêmeas Pandora e Vivara, resgatadas ainda filhotes, foram reintroduzidas na região da Serra do Cachimbo, área altamente preservada na Floresta Amazônica, após o processo de reabilitação no recinto de 1,5 hectare na área da Pousada Thaimaçu. E, mais recentemente, em 2024, o jovem macho Xamã, encontrado debilitado e sozinho com poucos meses de vida, também foi solto na Amazônia após mais de um ano de preparação. Desde então, vem sendo monitorado por GPS, e no período de sua soltura já tinha percorrido mais de 14 mil hectares e estabelecido seu próprio território, contribuindo para a conservação da espécie no bioma.
- Foto: Rodrigo Falcão
- Foto: Acervo Onçafari
- Foto: Acervo Onçafari
- Foto: Acervo Onçafari
Legenda: foto aérea da Thaimaçu, pôr do sol de Anavilhanas, Jacu-cigano, espécie nativa da zona norte da América do Sul e onça-pintada Xamã
A data de 5 de setembro, portanto, não é apenas uma data comemorativa, ela serve como lembrete de que a conservação da Amazônia depende de ações consistentes e contínuas, baseadas em dados, respeito aos ambos conhecimentos: dos povos da floresta e científico, e articulação entre diferentes setores da sociedade. Em um cenário de mudanças rápidas, iniciativas como as do Onçafari reforçam a necessidade de atuação integrada para que a Amazônia continue cumprindo seu papel no equilíbrio ambiental do planeta.
Foto de capa: Julia Vial
Escrito por: Maria Julia Farias



