Skip to main content

Desde 2011, o Onçafari tem se dedicado à conservação da biodiversidade brasileira com inovação e impacto real. Inspirado pelos safáris africanos e fundado a partir da convivência direta com as onças-pintadas no Pantanal, o Onçafari surgiu com o objetivo de unir o turismo ao respeito e conscientização da sociedade sobre as onças-pintadas e o meio ambiente. Em pouco mais de uma década, o que começou com a ideia de observar e conservar esses felinos emblemáticos, evoluiu para um grande propósito que abrange oito frentes, promovendo educação ambiental, pesquisas científicas, reintrodução de espécies, combate aos incêndios, proteção de territórios fundamentais para a fauna e flora, e muito mais.

Hoje, com 14 anos de atuação, o Onçafari soma diversas conquistas que beneficiam os animais, como também os biomas e as comunidades que compartilham dos territórios.

Para celebrar essa trajetória, reunimos uma série de destaques que simbolizam o caminho percorrido do Onçafari ao longo de quatorze anos.

1. Isa e Fera: símbolos da reintrodução

Isa e Fera foram as primeiras onças‑pintadas órfãs a retornarem à vida selvagem com sucesso comprovado. Resgatadas ainda filhotes em junho de 2014 após a trágica perda da mãe em Corumbá (MS), elas passaram por quase um ano de reabilitação intensiva em um recinto de cerca de 1 ha do Onçafari, construído na Caiman Pantanal, no Mato Grosso do Sul. Nesse período, desenvolveram seus comportamentos naturais com a caça de presas vivas, sem qualquer associação com humanos, usando portas de introdução disfarçadas e evitando contato direto para preservar seu instinto selvagem.

Em junho de 2016, com suas habilidades de caça maduras e colares GPS instalados para monitoramento, as portas do recinto foram abertas e Isa e Fera escolheram sair por conta própria: Fera primeiro, seguida de Isa. Quatro dias depois da soltura, Fera caçou com sucesso sua primeira presa selvagem, enquanto Isa começou com aves, evoluindo rapidamente para presas maiores. Em poucos meses, estabeleceram territórios, se integraram à população local e interagiram com outras onças do Pantanal.

O reconhecimento global veio com o nascimento dos primeiros filhotes em vida livre em 2018: Aurora, filha da Isa, e Ferinha e Céu, da Fera. Em 2020, nasceram novas crias, e hoje Isa e Fera já são avós, com descendentes que seguem estabelecendo vidas independentes na natureza.

Esse caso pioneiro representa a primeira reintrodução bem‑sucedida de onças‑pintadas no mundo seguindo padrões científicos, reforçando a importância de programas de reabilitação e soltura para a conservação.

2. A jornada de Valente: da reabilitação à liberdade

Foto: Liliam Rampim

Valente é a primeira anta devolvida à vida selvagem pelo Onçafari, representando um marco histórico além das onças-pintadas. Encontrado em agosto de 2024, em meio a uma área completamente devastada pelo fogo, Valente estava gravemente debilitado, desidratado e com ferimentos de queimaduras severas nas quatro patas. O nome não poderia ser mais apropriado: “Valente”, pela sua força e resiliência demonstradas diante da dificuldade.

Os incêndios florestais de 2024 deixaram um rastro de destruição no Pantanal, atingindo inclusive áreas protegidas e estruturas. Os recintos do Onçafari na Caiman Pantanal foram completamente queimados, forçando uma rápida mobilização para a reestruturação, por meio da campanha “Recupera Pantanal”, além do resgate e tratamento de animais prejudicados pelo fogo. O caso do Valente emergiu desse cenário crítico, simbolizando esperança em meio à devastação.

Durante oito meses de cuidado intensivo na Caiman, Valente passou por tratamentos veterinários avançados, incluindo terapia a laser e ozônio, uso de pele de tilápia para curativos, fisioterapia e acompanhamento especializado para recuperar a mobilidade e o tecido morto, e restabelecer comportamento natural. Sua recuperação foi gradual, mas consistente, preservando o instinto natural e evitando qualquer vínculo com humanos durante a reabilitação.

Finalmente, em 2025, Valente foi liberado em uma área de mata densa do Pantanal, dessa vez para viver livre. Esse caso representa a expansão da atuação da frente de reintrodução.

3. Contra o fogo: frente Anti-Incêndio e Recupera Pantanal

No começo de 2024, o Onçafari lançou a frente Anti-Incêndio, porém, diante dos incêndios catastróficos que devastaram 1,9 e 2,6 milhões de hectares no Pantanal, o equivalente a 15% a 17% de todo o bioma, segundo dados do Lasa/UFRJ e MapBiomas, o Onçafari percebeu que seus esforços, na época, ainda eram pouco.

Com isso, essa nova frente se estruturou, e hoje atua por meio da formação de brigadas comunitárias e privadas, realização de queimas prescritas e construção de aceiros negros, além do fornecimento de equipamentos e EPIs, tudo guiado por planos operativos de manejo integrado do fogo conforme as normas legais.

A criação dessa estrutura foi uma peça-chave na campanha do Recupera Pantanal, lançado após a destruição causada pelos fogos entre julho e setembro de 2024. A campanha teve como objetivo arrecadar recursos para custear não só a reconstrução de recintos e aquisição de equipamentos devastados pelo fogo, mas também a manutenção das brigadas, construção de poços de água, suplementação alimentar e assistência veterinária aos animais sobreviventes.

O reconhecimento internacional da campanha veio com a inclusão do Onçafari na lista Bright Ideas in Travel 2024, da Condé Nast Traveler, na categoria Organizações & Operadores.

4. Onças reintroduzidas na Amazônia

Resgatado ainda filhote e sem a mãe, Xamã passou por um processo de 2 anos de reabilitação até estar pronto para retornar à natureza. Em 2024, ele foi reintroduzido com sucesso em uma área remota e preservada da Amazônia, tornando-se a primeira onça-pintada macho solta na região pelo Onçafari.

Monitorado por colar GPS, Xamã percorreu mais de 14 mil hectares nos primeiros meses de soltura, evitando áreas abertas, mantendo comportamento típico de onças selvagens. Sua trajetória é relevante por trazer dados inéditos sobre os padrões de deslocamento, comportamento territorial e adaptação de um macho reintroduzido nesse bioma. Esses registros ajudam não só a aprimorar futuras reintroduções, como também a compreender o papel ecológico dos grandes felinos em áreas de floresta contínua.

Antes de Xamã, outras duas onças haviam sido reintroduzidas na Amazônia pelo Onçafari: Vivara e Pandora, ambas fêmeas e irmãs, em 2019. Com a soltura do Xamã, o Onçafari avança em sua missão de conservar a biodiversidade brasileira, adicionando novas histórias de retorno à natureza.

5. Jatobazinho na Argentina

Foto: Victoria Pinheiro

Jatobazinho foi resgatado ainda jovem, em 2018, no pátio da Escola Pantaneira Jatobazinho, em Corumbá (MS). Após reabilitação pelo Onçafari no Brasil, foi transferido para Iberá, na Argentina, uma região em que a espécie estava extinta há mais de 70 anos. Essa iniciativa pioneira foi conduzida pela Fundação Rewilding Argentina com apoio técnico do Onçafari.

Após tantos desafios durante seu resgate e recuperação, Jatobazinho voltou a ser livre e independente, retomando seu direito de viver na natureza. Segundo o monitoramento contínuo, ele gerou ao menos 13 filhotes, contribuindo para o repovoamento da espécie na região.

6. Reconhecimento e prêmios

O reconhecimento alcançado pelo Onçafari nos últimos anos é resultado de um histórico consistente de atuação em diferentes biomas, com iniciativas baseadas em ciência aplicada, conservação prática e impacto social. Desde 2011, o Onçafari atua com projetos de monitoramento de fauna, reintrodução de espécies ameaçadas, ecoturismo de conservação, formação de brigadas contra incêndios, educação ambiental, entre outros.

Esse conjunto de ações gerou visibilidade e reconhecimento institucional. Em 2024, o Onçafari foi selecionado entre as 100 Melhores ONGs do Brasil. Em 2025, recebeu o prêmio Unsung Hero da LATA Awards, em Londres, e foi citado na lista Bright Ideas in Travel da Condé Nast Traveler. Esses prêmios refletem como projetos de conservação podem repercutir além de seus territórios, ampliando o alcance da causa ambiental e estabelecendo novas referências no campo da conservação.

7. Expansão para novos biomas

O Onçafari iniciou suas atividades em 2011 na Caiman Pantanal, no Mato Grosso do Sul, com foco no ecoturismo com onças-pintadas, e desde então, expandiu as operações para outros três biomas: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica,, abrangendo uma área de influência superior a 2 milhões de hectares.

O Onçafari ampliou suas frentes de trabalho para abranger os diferentes contextos de cada bioma onde atua. Nas diferentes regiões, combina monitoramento da fauna, pesquisas científicas e ações de conservação, respeitando as particularidades locais.

8. Pemega, Perigara?

Foto: Acervo Onçafari

O projeto “Pemega, Perigara?” é uma iniciativa do Onçafari em colaboração com aproximadamente cem indígenas do povo Boe Bororo, residentes na Terra Indígena Perigara, localizada em Mato Grosso. Com uma área de 11 mil hectares, Perigara é uma das cinco Terras Indígenas do povo Boe Bororo na região.

Esta parceria busca fortalecer a autonomia da comunidade na gestão de seus territórios, alinhando as necessidades locais à conservação da biodiversidade. As atividades promovem o protagonismo local na gestão ambiental, e a implementação de práticas sustentáveis que respeitam os saberes tradicionais e a cultura da comunidade.

9. Terras próprias e corredores ecológicos

A proteção de áreas naturais ganhou protagonismo nas ações do Onçafari ao longo dos anos. Embora a atuação tenha começado com foco em ecoturismo, ciência e reintrodução, o avanço das ameaças ambientais levou a ONG a investir em reservas próprias e na criação de corredores ecológicos.

Corredores ecológicos, também chamados de corredores de vida selvagem, são faixas de terras naturais preservadas, que unem fragmentos florestais ou unidades de conservação. Esses corredores funcionam como “pontes” que conectam áreas naturais e facilitam o livre deslocamento da vida selvagem, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. A biodiversidade é extremamente conectada e, portanto, interligar áreas protegidas significa não só expandir territórios, mas proteger as espécies e suas “casas”. Criar grandes corredores ecológicos faz parte do objetivo do Onçafari de promover a conservação a longo prazo e em grandes escalas, para protegermos os animais, a natureza e vivermos em harmonia.

10. Habituação das onças no ecoturismo: 100% de avistamento

Nos primeiros anos do Onçafari, observar uma onça-pintada no Pantanal era extremamente difícil. Os registros eram esporádicos, as onças se mantinham em matas fechadas ou escondidas. Mas tudo começou a mudar a partir do trabalho de habituação, que é um processo gradual em que os animais se acostumam à aproximação de veículos de safári sem que isso afete seu comportamento natural. Com paciência, ciência e respeito, as onças foram aparecendo.

Essa transformação resultou em um marco: entre 2022 e 2024, 100% dos visitantes da Caiman Pantanal avistaram ao menos uma onça durante suas expedições. Esse feito não é coincidência, é fruto de mais de uma década de estudos intensivos com uso de colares GPS, armadilhas fotográficas, identificação individual e monitoramento diário. Até julho de 2025, já são 269 onças-pintadas identificadas na região, o que permite entender e acompanhar dinâmicas familiares e a ecologia espacial da espécie.

11. Registro raro do veado-campeiro albino!

Durante um safári na Caiman Pantanal, em 2023, um veado-campeiro de pelagem branco-lívida, olhos claros e pele rosada chamou a atenção da equipe. Trata-se do primeiro registro confirmado, no Pantanal, de um veado-campeiro completamente albino, uma condição causada por uma mutação genética que afeta a produção de melanina – condição rara na natureza. A sobrevivência a longo prazo deste veado-campeiro albino é pouco provável, pois a camuflagem se torna mais difícil nesse ambiente e o indivíduo fica mais visível a seus predadores, que na região incluem as onças-pintadas e onças-pardas, além da propensão a doenças de pele nos trópicos devido à falta de melanina, podendo sofrer com outros problemas de saúde.

No entanto, no ano seguinte o filhote continuou sendo avistado. A bióloga Giovanna Leite, durante um safári, também registrou o filhote com a mãe, o que lhe rendeu uma medalha de bronze no Brasília Photo Show (BPS – Festival Internacional de Fotografia).

Foto: Giovanna Leite

E a imagem intitulada “O Fantasma do Pantanal”, feita por Bruno Sartori Reis, biólogo e fotógrafo Onçafari, foi finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024, um dos principais concursos de fotografia de natureza do mundo.

12. Cerrado em destaque no exterior!

Em 2023, o Cerrado brasileiro ganhou as telas da Europa por meio da série documental da BBC, Planet Earth III, que retrata os ambientes naturais mais impressionantes do planeta. O terceiro episódio apresentou para o público imagens do interior de uma toca de lobo-guará selvagem, e a protagonista da cena foi Nhorinhá, fêmea que foi monitorada pela equipe do Onçafari na Pousada Trijunção, no Cerrado, entre 2018 e 2023.

Com o apoio técnico e científico do Onçafari, a produção registrou o cotidiano de Nhorinhá e seus filhotes, revelando diversos aspectos da espécie, como o comportamento reprodutivo e os cuidados maternos. O lobo-guará é um símbolo do Cerrado e um indicador ecológico da saúde do bioma.

O episódio destacou ainda a riqueza e fragilidade do Cerrado, alertando para o desaparecimento do bioma, que foi desmatado duas vezes e meia a mais do que a Amazônia em 2023, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

13. Onça-pintada Esperança

Foto: Adam Bannister

No início das atividades do Onçafari, a onça-pintada Esperança foi a primeira onça a ser avistada com frequência pela equipe de campo, tornando-se um símbolo do começo do ecoturismo com esse felino no Brasil. A partir dela, o trabalho de monitoramento e habituação foi estruturado, permitindo que a presença de veículos fosse gradualmente aceita pelos animais sem causar estresse ou alteração de comportamento.

Com o tempo, Esperança teve filhotes, como a Natureza, que cresceram já familiarizados com a presença dos carros de safári. Essa convivência possibilitou que as gerações seguintes de onças fossem mais tolerantes à presença dos carros de safári, tornando os avistamentos mais frequentes.

Seu legado segue vivo até hoje nos campos do Pantanal, onde seus descendentes ainda circulam pela região, sendo alguns deles habituados, monitorados e fotografados, conectando o passado com o presente.

14. 359 onças identificadas nas bases do Pantanal!

E por último, mas não menos importante, o marco de 359 onças-pintadas identificadas nas bases Caiman Pantanal, Reserva Santa Sofia e Perigara, do Onçafari, simboliza a dimensão e as conquistas do trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo de 14 anos de história. Cada onça registrada representa uma história única e um avanço no conhecimento que embasa estratégias de conservação, ciência e ecoturismo sustentável.

No Cerrado, o monitoramento na região do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e Pousada Trijunção revelou um dado impressionante: cerca de 40% das onças registradas nessa área são melânicas, uma condição rara que atinge menos de 9% da população mundial da espécie.

A trajetória do Onçafari só foi possível graças ao apoio contínuo de colaboradores, parceiros, conselheiros e todos que acreditaram na conservação da biodiversidade brasileira. Nosso sincero agradecimento por fazerem parte dessa história. Seguimos juntos, com o mesmo propósito e ainda mais esperança no que está por vir.

Escrito por: Maria Julia Farias

Foto de capa: Gabriela Batista