Skip to main content

Um dos biomas brasileiros com maior biodiversidade do mundo é o mais devastado do país

A Mata Atlântica foi o primeiro bioma a ser explorado com a chegada dos europeus e, desde então, passou por um processo contínuo de ocupação, exploração e transformação. Sua posição geográfica, próxima ao litoral, facilitou o estabelecimento das primeiras cidades e o desenvolvimento das atividades econômicas que impulsionaram o país, tornando-se o território de maior densidade populacional do Brasil. Atualmente, cerca de 72% da população brasileira vive em áreas cobertas pela Mata Atlântica.

Originalmente, a Mata Atlântica cobria aproximadamente 1,3 milhão de km², cerca de 15% do território brasileiro, estendendo-se do Piauí, no Nordeste, até o Rio Grande do Sul. Era uma floresta contínua ao longo do litoral, alcançando também porções do interior, em estados como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Imagem: SOS Mata Atlântica

A presença humana intensa deixou marcas profundas, sendo o bioma mais degradado do país. Hoje, restam apenas 12% da cobertura original do bioma, ocupando 7% do território nacional. Essa drástica redução é consequência de séculos de desmatamento, ocupações irregulares, expansão agropecuária e crescimento urbano desordenado.

Mesmo com a perda de território, a Mata Atlântica permanece como um dos biomas com maior biodiversidade por área do planeta, contendo um pouco mais de 22 mil espécies de fauna e flora, além de uma alta quantidade de espécies endêmicas na região: aquelas que não existem em outro lugar. Em comparação com a Amazônia, a Mata Atlântica, apesar de bem menor em extensão, abriga uma diversidade de fauna e flora elevadíssima quando comparada por unidade de área!

Essa riqueza, no entanto, está em risco. De acordo com o levantamento de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24,1% das espécies avaliadas na Mata Atlântica estavam ameaçadas de extinção. A fragmentação do habitat, que isola as populações animais, aliada à poluição e mudanças climáticas, compromete o equilíbrio ecológico e ameaça os serviços ambientais, tais como provisão de alimento e água, a regulação do clima, matéria-prima, fertilidade dos solos, entre outros, ou seja, serviços essenciais para a vida.

“Preservar a Mata Atlântica é uma questão de segurança ecológica e humana. A floresta é aliada da saúde pública, do combate às mudanças climáticas e da manutenção da biodiversidade, incluindo de espécies que desempenham papéis-chave no equilíbrio ecológico.”

Equipe de monitoramento de fauna do Onçafari.

Em vista de proteger e conservar a biodiversidade brasileira, o Onçafari atua na Mata Atlântica desde 2020. Em 6 bases, totalizando 61 mil hectares, o monitoramento contínuo da fauna é realizado com 70 armadilhas fotográficas (câmera trap), que geram dados valiosos sobre a presença, comportamento e a distribuição da vida silvestre.

Ao longo de cinco anos de atuação, foram registrados diversos animais, incluindo espécies altamente ameaçadas, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, o cachorro-vinagre, 26 jaguatiricas, entre outros. Entre os registros mais notáveis, estão duas antas albinas, uma ocorrência extremamente rara na natureza; e, por outro lado, a onça-pintada, espécie símbolo da fauna brasileira, ainda não foi registrada pela equipe nas áreas monitoradas. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a população de onças-pintadas na Mata Atlântica encontra-se classificada como “criticamente ameaçada”, estágio mais avançado antes da extinção.

 

Legenda: Algumas das espécies da Mata Atlântica em risco de extinção: anta, macuco, tamanduá-bandeira, cachorro-vinagre, queixada, gato-maracajá, ouriço-caxeiro e anta albina.

O Dia Nacional da Mata Atlântica, celebrado em 27 de maio, foi instituído oficialmente no Brasil em 1999 como um marco simbólico de reflexão e mobilização pela proteção de um dos biomas mais ameaçados do país. A data destaca a urgência de ações concretas de conservação e de valorização da ciência como ferramenta para proteger o patrimônio natural brasileiro.

Ao longo das últimas décadas, pesquisadores, ambientalistas e organizações da sociedade civil têm desempenhado um papel essencial na defesa da Mata Atlântica, contribuindo para avanços no monitoramento da biodiversidade, na criação de áreas protegidas e na formação de políticas públicas. A criação da data, portanto, busca não apenas celebrar a existência desse bioma, mas alertar para a urgência de sua proteção.

A atuação do Onçafari pela conservação da Mata Atlântica

Atento à complexidade e à urgência do meio ambiente, o Onçafari desenvolve, desde 2011, ações voltadas à fauna e flora brasileira, a qual usa da ciência e educação como instrumentos de mudança. Atualmente, na Mata Atlântica, a ONG atua nas bases: Fazenda Velocitta (Mogi Guaçu/SP), Fábrica Goodyear (Americana/SP) e Legado das Águas (Miracatu/SP), onde realiza o monitoramento de espécies. “Em todas essas bases, trabalhamos com o monitoramento por meio de armadilhas fotográficas, gerando dados que reforçam a importância da proteção destes fragmentos florestais e auxiliam na tomada de decisões sobre a conservação dessas áreas”, completa a equipe de monitoramento composta por Gabriela Burattini, Pedro Yamassaki e Rachel Befi.

Imagem: Gregory Fenile

Além do monitoramento da fauna e da geração de dados científicos, a atuação do Onçafari também contribui para o fortalecimento de áreas naturais protegidas e para a conexão entre fragmentos de floresta. A criação de grandes corredores ecológicos é uma das estratégias para garantir o deslocamento seguro das espécies e a sua sobrevivência.

Foto de capa: Gustavo Pedro

Escrito por: Maria Julia Farias